O montanhista André Padrenosso escreve um artigo sobre o Perfil Morfo-funcional do Praticante de Escalada em Rocha. O texto original foi publicado na comunidade européia no mês passado. O texto começou a ser escrito como monografia de graduação de André e, por se tratar de assunto pouco abordado no Brasil, tornou-se um artigo internacional. Acompanhe abaixo uma síntese do estudo do escalador.


A escalada em rocha tem sido um dos esportes de aventura na natureza mais procurados nos últimos anos. A facilidade de acesso à escalada, aliada à prática com relativa segurança e as emoções proporcionadas por esta modalidade esportiva vem fazendo com que muitas pessoas procurem instrutores para começarem a dar os primeiros passos nesse esporte. Entretanto, a aptidão física tem que ser levada em conta no momento da prescrição dos exercícios e para essa função, torna-se necessária à orientação e a intervenção de um profissional de educação física. Sendo assim, desenvolvi um estudo que teve por objetivo verificar a aptidão física de praticantes de escalada em rocha no Rio de Janeiro.

Participaram da pesquisa escaladores de ambos os sexos, que realizam treinamentos tanto em muro artificial indoor quanto em rocha. Para participar do estudo, foi estabelecido como critério de inclusão o período de prática de escalada de pelo menos um ano, com freqüência semanal de pelo menos três sessões de treinamento, sendo, necessariamente, parte destas sessões de escalada em rocha.

Foram avaliadas a aptidão cardiorrespiratória, um índice altamente correlacionado ao consumo máximo de oxigênio e na aptidão neuromuscular foram efetuados os testes de sustentação máxima e repetições máximas de membros superiores, no exercício de puxada pela frente, mas simulando as condições específicas de pegadas encontradas por praticantes de escalada.

Primeiros resultados - Os resultados obtidos indicam que a aptidão física na escalada em rocha pode sofrer a influência do tempo total de prática da atividade, da freqüência semanal de treinamento, do nível técnico e, conseqüentemente, do grau de dificuldade ao qual o praticante se expõe.

Em relação a aptidão cardiorrespiratória os dados obtidos parecem ser consensuais com a bibliografia, onde o tempo de prática de uma determinada atividade, bem como a freqüência semanal de treinamento, sugerem a ocorrência de um maior nível de adaptação, os dados obtidos demonstram que o consumo de oxigênio na escalada esportiva em vias com graduação de dificuldade mais baixas, é relativamente mais baixos, indicando uma contribuição pouco significativa da potência aeróbia para o sucesso da performance. Porém, ao investigar um grupo de escaladores competitivos, realizando performances em subir vias com graduações mais difíceis, os valores de VO2 foram mais elevados, indicando uma maior necessidade da potência aeróbia na realização destas performances.

Porém, outros estudos relatam que a intensidade da participação do metabolismo aeróbio depende mais da dificuldade percebida por cada praticante da escalada do que da graduação da via em si, o que de qualquer forma parece confirmar a adaptação funcional.

Indivíduos adaptados a níveis de dificuldade mais elevados e intensos tendem a apresentar uma maior economia funcional, como ocorreria em qualquer outra atividade.

Em relação à aptidão neuromuscular, os dados encontrados na literatura demonstram a importância do regime isométrico e do regime dinâmico de trabalho muscular, principalmente em relação aos membros superiores, e mais especificamente a associação com a escalada esportiva. Estas solicitações interferem na pressão arterial sangüínea e este deve ser um fator a ser considerado para a prática segura da atividade. É importante destacar que o posicionamento corporal e o regime de trabalho muscular executado podem promover alterações significativas neste parâmetro fisiológico.

No que diz respeito aos aspectos morfológicos, alguns autores afirmam que os atletas com menor percentual de massa gorda, teriam um desempenho facilitado dentro do esporte.

Conclusão - A principal conclusão é que a aptidão cardiorrespiratória é importante para a prática da escalada esportiva, o que muitos profissionais discordam, por isso efetuei testes de VO2, pois a posição dos membros superiores acima da cabeça, eleva a pressão, que por sua vez aumenta o fluxo sangüíneo, requerendo assim um volume maior de oxigênio no organismo, ou seja, uma boa aptidão cardiorrespiratória.

Fonte : http://www.webventure.com.br/montanhismo/index.php?destino_comum=noticia_mostra&id_noticias=24233&id_noticias_textos=27807