escalador cinéfilo Cristian de Minas Gerais fez o favor de traduzir a entrevista do escalador Tomaz Mazrek .

Obrigado Cristian!!!


Tradução de uma parte da entrevista que o escalador Tomaz Mazrek concedeu no final do último não durante o Campeonato Tcheco onde ele venceu novamente com uma vantagem enorme.

A temporada de competições de 2008 acabou. No ultimo evendo em Kranj você terminou em 4º lugar, isto fez com que você perdesse a vitória geral das etapas da Copa do Mundo de escalada esportiva de 2008. Você se desapontou?
Antes da etapa de Kranj eu tinha 100 pontos de vantagem e a decisão estava praticamente entre os 3 primeiros. A via era muito curta e forte, ela tinha 33 movimentos e a maioria dos escaladores cairam no 22º movimento sem nenhum descanso, eu escalei com a pressão de ser o último a entrar na via.
Eu ouvi o locutor dizer que Verhoeven estava em segundo e então eu sabia, que para eu vencer eu tinha que supera-lo. Mas eu não consegui dar mais de mim na via.

Deve ser terrivelmente estressante quando você ouve o locutor dizer como os outros competidores se saíram. Eu penso que nas etapas da Copa do Mundo os organizadores devem tentar manter essa informação fora do isolamento.
Bem, talvez não deveria acontecer, mas é só controlar o que o locutor está falando. Ele deveria descrever como os competidores estão escalando, em qual posição, etc... Normalmente eu não tenho problemas com isto, mas quando é a última competição e tem muita coisa em jogo, isto me afeta bastante.
Normalmente ninguém que está escalando por último costuma mandar bem nas finais. Mesmo que ele vença a semi-final como eu fiz em Kranj. E é muito difícil para o último competidor da lista relaxar e concentrar seus esforços.

Qual o grau das vias da semi-final e final?
Na semi-final a dificuldade era 8b+ (10 C brasileiro) e na final era 8c (11 A)

Então como você analisa esta última temporada?
Definitivamente eu estou satisfeito. Após alguns anos eu não me preocupo tanto com os resultados, o primeiro e o segundo normalmente. Claro que estava muito motivado durante o primeiro dia por eu estar muito próximo, mas no segundo dia eu estava normalmente muito motivado para o próximo ano e focado no ranking geral da Copa do Mundo. Falhar simplesmente me motiva mais.

Atualmente você vem competindo desde 1999. Primeiro no júnior, agora na categoria adulto. Você não está cansado? Você ainda gosta de competir após estes anos ou a competição é o seu trabalho?
Bem, eu posso dizer que parted as competições é meu trabalho, porque, seu eu não competir, o dinheiro dos patrocinadores apenas da escalada em rocha irá cobrir apenas o mínimo para sobrevivência. E eu preciso viver em uma casa, etc... então os prêmios para mim é uma grande motivação.
Mas claro, eu também encaro as competições como uma forma de encontrar novas pessoas e os melhores escaladores do mundo, adquirindo informações e tentando entretendo as pessoas com minha performance na escalada. O público não irá te seguir, você deve encontrar o público. Eu simplesmente ainda gosto de competir, mas apenas nos campeonatos bem organizados, onde a coisas como bons muros, atendimento aos atletas, grande público, cobertura da TV, bons prêmios.
Aonde você sente que o esporte está evoluindo para algum lugar. A 5 anos atrás haviam competições bem piores que me desmotivavam.

Recentemente você criticou na revista de escalada Tcheca Montana que o nível das competições nas etapas da copa do mundo vem caindo e a atitude da IFSC (International Federetion of Sport Climbing – Federação internacional de escalada esportiva)
O nível de algumas etapas da copa do mundo está caindo, muitas vezes acontecendo no mesmo local por vários anos. Por exemplo em Chamonix as competições vem ficando piores a cada ano. Ainda é difícil conseguir patrocinadores. Então você tem novas competições e bem organizadas. Talvez fosse melhor se as competições fossem propostas como um complexo, dinheiro seria obtido, organizadores teriam suporte e as pessoas atraídas. Isto poderia melhorar o nível das competições. A única competição que fez progresso, é a Copa do mundo, que não é subordinada a IFSC.
A competição tem seu próprio formato e ocorre sem os membros do conselho da IFSC e os organizadores tentam faze-las atraentes para o público e para os competidores. A IFSC tem o mesmo presidente a 20 anos, e a única questão que eles estão interessados é como entrar nos jogos olímpicos, que talvez estará em 2020 como um esporte de demonstração. Eles não tem outras idéias, o que poderia promover as competições e aumentar o seu nível, e isto é ruim.

E qual é atualmente o clima nas etapas da Copa do Mundo? Vocês ficam em contato após a temporada de competições? Vocês viajam e escalam junto? Vocês treinam juntos?
O clima é bom. A certa de 4 anos atrás nós dávamos um jeito de reunir as pessoas, éramos todos amigos. Depois das competições haviam festas, nós gostávamos de curtir, relaxar juntos. Diretamente nas competições nós dávamos apoio uns aos outros. Claro que havia disputa entre nós, mas não de uma forma que um nem cumprimentava o outro.
Com algumas exceções, todos tinham a cabeça aberta e eram gentis e amigáveis. Fora das competições nos vemos por aí, por exemplo em Innsbruck treinando indoor ou em algum lugar na rocha.

E o que você anda fazendo após o fim da temporada de 2008. Descansando? Escalando em rocha?
Logo após o campeonato Tcheco aqui em Praga nós vamos para a Espanha por dois meses. Nosso desejo é a área de Lleida. Definitivamente vamos querer escalar menos em questão de volume, em compensação, escalando vias mais difíceis, mas também, algumas coisas fáceis.
Devido a primeira etapa da copa do mundo começar em Julho, não em março, como costumava ser, eu posso me dedicar mais a escalada em rocha nas falésias e começar a treinar mais para frente. É ótimo que as competições de escalada guiada estejam no 2º semestre e tenha apenas 5 competições de boulder ao invés de 10 entre março e junho.

E no próximo ano, você irá competir novamente nas etapas de boulder?
Não, apenas 3 competições por diversão. Eu gosto de competições de boulder, elas me deixam feliz, e eu também as uso como preparação para as competições de escalada guiada. Competições de boulder são uma grande loteria, em uma etapa você fica em primeiro, e várias vezes nem entra nas finais, depende muito da sorte. Então para vencer toda a copa do mundo é difícil.
Mas na escalada guiada, se você for bom o bastante, você pode estar quase sempre no podium.

Em 2008 você fez muito boulder ao ar livre. Você estava em Fontainebleau. Você foi fisgado por lá?
Realmente eu comecei a gostar muito de boulders e eles fizeram eu dar um grande passo. Eu não preciso de muita coisa, eu tenho apenas um crashpad, e eu posso tentar quantas vezes eu quiser, e eu gosto disso. Com certeza na primavera estaremos em Fointainebleau novamente.
Eu achava que mesmo ao ar livre você preferia vias longas de resistência do que vias explosivas (boulders).

Isto é devido ao medo de machucar? Ou você simplesmente não está interessado nelas?
Eu não posso dizer que não gosto de vias curtas e explosivas, mas eu não visito áreas onde as vias são assim. Eu gosto de áreas onde posso escolher vias de vários estilos. Nas vias curtas eu gostaria que depois de 10-15 metros a via continuasse. No geral eu considero vias que tem 25-30 metros de escalada forte e constante do início ao fim, sem descansos. E eu acho que essas são as vias mais difíceis de serem escaladas. Mais difíceis do que vias curtas de dois movimentos e mais difíceis do que vias de 60 metros com 2 movimento de boulder no meio.
Mas minha atitude pode ser mudada, é bom evoluir e não se fechar somente para um caminho. É necessário escalar qualquer coisa e eu faço isto, mas estas vias, assim como eu descrevi, para mim parecem as mais difíceis. A outra coisa é que neste momento não visito Frankenjura também devido a lesões. Eu tive três rompimentos parciais do tendões e todas as vezes foi em monodedos.
A última lesão foi em Siruana na Espanha. Talvez eu tenha os dedos fracos. Eu não tenho problemas com bidedos, mas o monodedos minúsculos me causam uma lesão toda vez. Agarras maiores, pinças... eu não me machuco nelas e isto é o mais importante para mim.

A algum tempo atrás voce disse, depois de competir gosta de ir para os locais de escalada, onde pode escalar mais de uma via. E só assim, quando você começa a competir em boulder também.
Por exemplo em 2007 nós havíamos reconstruído nossa casa, então eu treinava apenas para competições e nos tempos livres eu ficava em casa. É verdade que o meu psicológico estava bem ruim nesta época, mas em 2008 eu fui muito as falésias, apesar de não estar escrito em nenhum lugar, porque eu não falava das minhas ascensões em nenhum lugar. Eu sou empolgado, porque quando faço meu treino todo escalando em rocha, eu melhoro muito. Mesmo no ginásio de escalada eu me sinto tecnicamente melhor.
Dois anos atrás eu participei de 23 competições no ano, eu competia a cada 2 finais de semana em boulder ou escalada guiada. Eu primeiro tentei combinar os dois. Devido a não estar separado como agora, primeiro semestre boulder e segundo semestre escaladas guiadas, eu praticamente não ia para a pedra. Tomava muito o meu tempo.
Agora eu posso ficar 3 meses nas falésias, limpar minha mente e então me esforçar para brigar pelo primeiro lugar em escalada guiada ao invés de ser uma correria.Para mim a rocha ainda é a base, mas é claro que ao escalar um 9A (11C) ninguém irá me dar nada por isso.

Você tem alguma limitação, quando você fala de si próprio, sempre irá terminar falando sobre competições?
Claro, quando alguma temporada começa e eu não subo nenhuma vez no podium e eu não ganho nenhum dinheiro, então talvez esse ano eu vou a apenas uma competição ou nenhuma ou então fico este ano descansando. Eu não quero apenas participar e terminar na 20ª posição, como por exemplo Legrand.
Os escaladores mais jovens irão aparecer e ninguém é capaz de ficar competindo no nível mais alto da escalada por 10 anos. Então se eu puder, irei competir. Eu sou realista, tenho 26 anos, então será que eu consigo manter até os 30?

E então? O que você irá experimentar dão para frente?
Claro que eu não quero terminar na rua. Eu tenho que trabalhar, mas em algum lugar sem ser uma fábrica. Eu gostaria de abrir uma academia de boulder com loja, bar e ensinar crianças, colaborando com a União Tcheca de Montanhismo.
Nosso estilo de vida é igual uma doença, eu não consigo me imaginar indo trabalhar todos os dias de 9 as 5 e não poder tirar férias de um mês por exemplo, não poder ir para pedra. Eu irei tentar viver através da escalada e para manter essa liberdade, é assim a vida de escalador.
Se você for humilde...

Existem escaladores que você admira muito?
Claro.
Existem pessoas que são os espelhos da escalada para mim. Por exemplo o "louco" Dani Andrada... acorda de manhã, conquista, escala, conquista, não faz mais nada. Ele tem em casa apenas guias de escalada, se você o perguntar sobre o que ele sabe, será apenas sobre escalada.

Então escala com o corpo e com a alma?
Exatamente. Tem alguns competidores, que vão a rocha somente para mostrar quais vias conseguem fazer. Bem, eles tem medo, mas as mulheres antigamente escalavam 8b+ (10C)/8c(11A) e ainda 9a(11C), mas eles não precisam disto internamente, eles apenas querem mostrar para as pessoas em volta.
Essas pessoas nunca irão se preparar para um viagem de escalada de um mês. Então eu não tenho respeito por elas.

Então, o que está sua tatuagem significa?
Bem, o dragão que eu escalo como um dragão. Então os outros coloridos são apenas um pouco de loucura, simplesmente inspiração do tatuador, um amigo de Hodonin (Cidade em South Moravia, República Tcheca) que fez.
Tatuagem é apenas um devaneio, eu sei que ainda irei ter outras. Não está relacionado a escalada, é talvez um tipo de exibicionismo e eu gosto disto.

O que você acha das vias com agarras escavadas? Você se importa com isto?
Eu não concordo com isto, mas não me importo muito também. Eu não escalo este tipo de vias, mas em qualquer lugar que você vá, lá estão elas. Vias com modificações sensíveis – agarras originais que quebraram coladas de volta, pequena lixada em quinas e bordas de buracos – eu não tenho nada contra, mas eu odeio modificações completas ou novas agarras coladas.
Mas por outro lado, eu não posso dizer que não gostaria de escalar vias assim.

Você atualmente costuma treinar para a copa do mundo em pequenos muros? Hoje em dia há uma grande quantidade de ótimos muros indoor, condições excelentes de treinamento, mas com exceção de Martin Stranik e Silva Rajfova ninguém mais se destacou nas copas do mundo. Onde está o erro?
Você pode treinar bem em qualquer coisa, mas motivação é necessária. Eu costumava treinar primeiro em Fritak, em Kotelna e depois na casa de Tufi (todos ginásios de boulder pequenos ou caseiros em Brno). Eu escalava on board still rounds on bad sandstones holds e tinha que treinar mais para ser capaz de seguir os outros que tinham boas condições.
Hoje em dia as condições são excelentes. Se a dez anos atrás tivéssemos boas condições como as pessoas tem hoje, seria 10x melhor. E se eu tivesse começado indo 3 vezes por semana nesses ótimos muros como os de Praga, então eu iria ser capaz de competir comigo mesmo.
Talvez não há motivação ou eu não sei, porque os garotos jovens escalam apenas por diversão e não querem seguir com a competição levada a sério.

O que acha de escalar algumas vias no tradicional arenito da República Tcheca?
Eu não tenho motivação e tempo para ir lá, mas ultimamente eu gostaria de viajar para lá. Eu gosto de arenito, eu vou constantemente fazer bolder nos arenitos de Moravia. Escalar no arenito ainda é algo a mais, as vias do vale de Labe se parecem em fotos maravilhosas, eu tenho vontade, e espero que o uso de magnésio seja aprovado em Março (na assembléia da União de Montanhismo Tcheca).

Então o principal problema para você não ir lá é o uso de magnésio?
Bem, é claro que se eu for até lá na quarta, então na quinta alguém irá postar uma foto minha usando magnésio. Eu vou para competições e dependo da União de Montanhismo Tcheca. Eu sinto muito, mas eu espero que isto seja feito da maneira certa.

Quais as vias de escalada que você aprecia mais?
Eu não sei. Eu as escolho de acordo com os meus sentimentos. Eu aprecio cada 8a(9C)… 8b(10B)… Talvez eu nem tente nada tão difícil, poderá ser fantástico. Eu acho que sou reservado quanto a isto. Eu simplesmente irei deixar correr o ano 2009... talvez eu escale um 9a+ (12a), 9b(12b), que eu irei tentar por mais de 2 dias e então terei que pagar caro por elas. Até agora eu estou muito relaxado e escalando tranquilo.

Por fim eu pergunto, como é o seu dia de descanso?
Nos dias de descanso eu descanso mesmo, não escalo, algumas vezes viajo, outras vezes eu vou pescar por aí.

Tomas, obrigado pela entrevista e eu desejo muito sucesso nas falésias e competições.

Patrocinadores de Tomas: Rock Pillars, Ocún, CHS, Alpine Pro, Chillaz, Lapis, Dukla, Vertical, TR-steny, CzechClimbing.com.

texto original em : http://www.czechclimbing.com/clanek.php?key=7578