Uma das personalidades mais famosas na escalada do estado do Rio de Janeiro, Flávio Daflon, cedeu entrevista ao Blog de Escalada, para falar sobre seus livros, suas escaladas e estilo de vida.
Flávio Daflon é autor de um dos melhores guias de escalada do Brasil, o guia da Urca. O guia contém muita informação das vias de escaladas da cidade do Rio de Janeiro.
Acompanhe a entrevista abaixo :
1 - Flavio, como surgiu a idéia de fazer o seu primeiro guia de escaladas?
R. A maior inspiração foi o Guia de Escaladas do Frey, Bariloche (Argentina) onde fui escalar em 1994. Guias de escaladas já eram comuns nos principais locais de escalada do mundo e era incrível como no Rio, com tantas vias, não havia um.
Havia o Catálogo de Escaladas do Estado do Rio, do André Ilha e da Lucia Duarte, de 1984 e a lista de vias conhecidas da antiga Federação de Montanhismo do Rio de 1975. Ambas apenas traziam o nome das vias, graduação e montanha.
Trabalhamos cerca de um ano e meio e lançamos o Guia da Urca em 1996.
2 - O seu guia hoje é considerado o melhor do Brasil em termos de conteúdo e qualidade editoriais. Houve alguma inspiração, ou foram somente suas idéias?
R. Como falei, o Guia de Escaladas do Frey foi uma inspiração sim. Outro guia que nos inspirou pela qualidade foi o Supertopo de Yosemite.
E é claro, a cada edição que publicamos - o Guia da Urca já está na quarta edição – vamos recebendo opiniões e sugestões dos escaladores, amigos e alunos, tendo novas idéias e assim vamos melhorando cada livro. Da segunda edição do Guia da Urca para a terceira foi uma melhora enorme e da terceira para quarta também melhoramos bastante, principalmente nos croquis e nas fotos.
3 - Como é conseguir atualizar o guia constantemente?
R. As atualizações disponibilizamos gratuitamente no site da Companhia da Escalada. (www.companhiadaescalada.com.br )
Elas chegam através de emails, conversas com amigos e quando escalamos. Sempre pedimos aos escaladores que nos avise sobre qualquer novidade que encontrarem, sobre vias novas, etc...
Em cada nova edição atualizamos nossos livros com as informações obtidas, desenhamos novos croquis, mapas e adicionamos novas fotos.
4 - Há alguma idéia de haver um "casamento" de seu guia com a Internet, como por exemplo contar as coordenadas em GPS, ou até mesmo o caminho das trilhas traçado em GPS também?
R. A internet complementa os guias. Entre uma edição e outra colocamos as atualizações em www.companhiadaescalada.com.br .
No Guia da Urca não utilizamos coordenadas em GPS, mesmo porque as trilhas são curtas.
5 - Além do seu guia qual outros livros você escreveu?
R. Eu e o Delson Queiroz escrevemos o Guia de Escaladas da Urca em 96, com novas edições em 98, 2002 e 2010.
O Guia de Escaladas da Floresta da Tijuca, que abrange o Corcovado, Pedra da Gávea, Pico da Tijuca e outros, lançamos em 2004 e agora estamos trabalhando na segunda edição. Em 2007, eu e a Cintia Daflon publicamos o Escale Melhor e com Mais Segurança, que agora está em sua segunda edição.
6 - Qual é a motivação de ser um autor de livros de escalada?
R. É escalar. Gosto de repetir vias novas e conhecer o máximo de vias.
7 - Hoje a elaboração de livros de escalada ocupa 100% do seu tempo, ou também possui algum outro projeto pessoal?
R. A maior parte do nosso trabalho, meu e da Cintia, são os cursos de escalada e as escaladas guiadas.
Isso inclui a administração da escola, divulgação, manutenção do site, responder emails, etc... As atualizações dos livros também dão muito trabalho, principalmente no ano de uma nova edição, assim como a divulgação e a distribuição. E ainda, e principalmente, tento manter minha rotina de escaladas e treinos.
Escalar profissionalmente é uma coisa. O cliente escolhe a via e normalmente são vias que você já conhece e abaixo do seu nível.
Para escalar as vias que gosto e ainda quero fazer é preciso manter a forma. Então treino no muro em casa, esportiva na Barrinha, CE 2000, Chacrinha e Platô da Lagoa e escalo com os amigos no Totem, Corcovado, Gávea, Petrópolis,
Salinas e onde mais tiver vias interessantes.
8 - Na sua visão hoje, o que mudou na escalada do Rio de Janeiro e do Brasil desde que começou a escalar?
R. Sem dúvida há mais gente escalando, mas levando em conta os últimos 20 anos, me parece que este crescimento é diluído, pelo menos aqui no Rio.
Diferente do centro-oeste e do nordeste que saíram do zero para um bom número de escaladores atualmente.
Aumentou sim o número de escaladores escalando esportiva de grande dificuldade, principalmente com a abertura de muitas vias neste estilo.
O perfil dos escaladores também mudou.
9 - Como você vê todo o imbróglio da ABETA querendo regulamentar a prática de escalada?
R. Tenho acompanhado a distância, mas concordo com a posição da CBME de que as entidades esportivas é que definem os critérios de qualificação de praticantes profissionais e amadores.
10 - Para quem está começando a escalar, fora ler seus livros, qual o conselho que daria?
R. Fazer um curso.
Quando se aprende a escalar com amigos nem sempre se aprende tudo o que é necessário. Amigos normalmente ensinam o mínimo para ter um parceiro de escalada.
Aqui no Rio teve um caso de um escalador que aprendeu a escalar com amigos, já escalava sétimo grau, e ficou preso no meio do Pão de Açúcar por que não lhe ensinaram a fazer prusik.
Só saiu de lá quando outros escaladores subiram para fazer o “resgate”.
11 - Como está sendo visto por você a qualidade dos cursos de escalada ministrados no Brasil?
R. Fora do Rio conheço pouco dos cursos, mas aqui graças a Aguiperj e a Femerj temos um currículo mínimo bem completo para cursos de escaladas e guias e instrutores certificados.
12 - Você é reconhecidamente um profissional da escalada, e no Brasil há poucos. Qual o segredo?
R. Lá em casa somos dois, eu e a Cintia. Trabalhamos ‘full time’ com a escola e com nossos livros.
Primeiro tem que gostar muito do que se faz, depois fazer bem feito. É fundamental ter conhecimento e experiência para trabalhar com escalada. Nós não decidimos de uma hora para outra trabalhar com escalada.
Quando comecei a dar aulas já escalava há 6 anos e já havia escalado guiando a grande maioria das vias clássicas do Rio, como Pássaros de Fogo, Lagartão, Waldo, Íbis, Harmonia Sativa, Aquarius... Já havia escalado no Frey, Salinas, São Paulo, Minas, Curitiba...
Para realmente decidir largar o 5º período da faculdade de Informática da UERJ fiz, em 96, uma viagem de 7 meses pela América do Sul, escalando em todos os países da Patagônia à Colômbia.
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