O que era rumores agora é realidade. O Alê Silva, proprietário da Casa de Pedra, o maior ginásio de escalada de São Paulo anunciou hoje na comunidade do Ginásio no Orkut que sua maior unidade, a de Perdizes vai fechar.

Isso é muito triste, pois a cidade de São Paulo não é um lugar privilegiado para escaladores e agora ficará pior. O paulistano que deseja ir à rocha, já precisa se deslocar até a região de Bragança ou para São Bento do Sapucaí, distantes mais de 100 km da capital, para poder escalar vias de qualidade. Agora, escalar em São Paulo ficará ainda mais difícil.

Na capital, há pouquíssimas opções de treinamento. Mesmo com 20 milhões de habitantes, a região metropolitana ficará com apenas dois ginásios, a 90 graus e a Casa de Pedra da Chácara Santo Antônio, deixando uma lacuna enorme de pessoas na mão, já que se deslocar em São Paulo é quase impossível por causa do trânsito. Enfim, quem mora perto desses ginásios poderá treinar, quem mora longe, azar...

São Paulo já foi a cidade com mais ginásios no Brasil. Eram 3 Casas de Pedra (Perdizes, Chácara Sto Antônio e Granja Viana), a Rocódromo (antiga Crux) e a 90 Graus. Fora isso, na região metropolitana ainda tinha a Vertical Indoor em Arujá, que também fechou, assim como o Ginásio Alpino de Campinas (preciso de confirmação, please!). Contudo, nos útimos anos, foram 5 ginásios fechando no Estado de São Paulo!

Se os ginásios fecham, isso quer dizer que eles não dão dinheiro, ou seja, há poucos freqüentadores. Em minha experiência pessoal, eu consegui sentir a diminuição de pessoas escalando na prática.

Há 10 anos, a Pedreira do DIB em Mairiporã fervilhava de gente escalando. Era a época em que havia atritos entre escaladores e rapeleiros, pois para estes últimos não havia um lugar onde se jogasse uma corda que não encontrava a cabeça de um escalador. Hoje na pedreira do DIB, até mesmo nos dias ensolarados de Domingo, se vê um movimento muito tímido de algumas poucas duplas de escaladores.

O visual das Águas em Bragança era tão cheio, que fazíamos fila para escalar as vias. Nesta época aguardávamos ansiosamente todos os meses para comprar as revistas que falavam de escalada, até que foi lançada a excelente revista Headwall, uma revista só pra gente!

Hoje a escalada e montanhismo não têm mais uma revista em nível nacional. Restaram apenas dois informativos regionais, o Mountain Voices e a Fator 2 que são bravamente mantidos por seus idealizadores, o paulista Eliseu Frechou e o casal carioca Cintia e Flávio Daflon.

A culpa não foi da internet. Muitos sites também sucumbiram. Lembro de um excelente: No Topo. Recentemente falei por email com o antigo editor dele, Eduardo Bauru, ele até parou de escalar... Outro site que era muito visitado e hoje está quase morto é o Hang On, do escalador Mauricio "Tonto"Clauzet. O Tonto não parou de escalar, mas seu site não é atualizado há muito tempo...

Por que aconteceu tudo isso? Quem é culpado deste declínio da escalada?

É difícil apontar o que houve, mas pode ter acontecido várias coisas. Algumas atividades viram moda e depois entram em declínio. Se a escalada era moda, ela demorou a cair, pois de 1998 até mais ou menos 2003 ela esteve sempre crescendo. Havia grandes projetos, gente sendo patrocinada, feira de aventura em São Paulo cheio de marcas de escalada... De 2004 pra cá ela foi caindo e hoje estamos em baixa, mas não ainda num fundo de poço.

Por mais que nitidamente existam menos pessoas escalando agora do que há cinco anos atráz, ainda há muita coisa boa rolando e esse site é prova disso! Algumas pessoas que começaram naquela época, hoje atingiram um nível elevado e outras pessoas que já mandavam muito continuaram escalando. Por isso vemos grandes feitos brazucas, como o Felipinho fazendo história na Copa do Mundo e mandando um 11a na rocha. A dupla Ed e Val mandando tudo na Patagônia, a dupla Waldemar e Irivan escalando montanhas difíceis no Himalaia, o Nick Martinez escalando tudo quanto é tipo de Big Wall em solitário e o Maximo Kausch guiando expedições gringas no Himalaia.

Outra coisa interessante é que lugares onde antes quase não haviam escaladores, hoje está vivendo uma época de crescimento, como em Santa Catarina e no Nordeste. Este crescimento, no entanto, não deixa de sofrer os mesmo problemas dos lugares onde a escalada está em declínio...

Dentre estes problemas, estão as restrições e proibições impostas por proprietários de terras e por órgãos ambientais, problemas nunca vistos como hoje. Para poderem praticar montanhismo e escalada e os novatos de hoje estão encontrando equipamentos muito mais caros (e olha que isso nunca foi barato!) do que eu conheci há 10 anos, ou até mesmo há 5 anos, quando o dólar quase bateu a marca dos 4 reais na transição do governo FHC com o Lula.

Não acredito que o problema seja econômico, pois antes o país vivia uma recessão e o limite para este retrocesso é exatamente quando o Brasil começou a crescer, apesar desta crise mundial que é muito recente.

Isso é uma verdade muito inconveniente, pois quem quiser começar escalar hoje irá encontrar mais dificuldades, seja por que há menos locais para ir, como por que será mais caro escalar, há menos incentivo. Aliás este pode ser o grande problema: Ou a nova geração é muito tímida ou não existe nova geração, pois não houve uma renovação que fosse significativa e os campeonatos de escalada são uma prova disso. Onde está a renovação? Onde está o incentivo?

Para nós que somos apenas escaladores, isso pouco nos afetará, eu, por exemplo, continuarei escalando sempre! Agora quem é empresário do ramo, pode ter certeza que este declínio representará uma época de vacas magras, a não ser que alguém faça algo para incentivar uma renovação na escalada. Alguém se dispõe?

Fonte : http://altamontanha.com/colunas.asp?NewsID=866#1242