No dia de ontem publiquei uma entrevista com o escalador André Ilha.

Quanto ao post publicado, fiz todas as perguntas sobre temas que, na minha visão, André Ilha tinha (e realmente tem) conhecimento de causa.

Sinceramente eu acredito, do "fundo do meu coração ", que ele não quis alfinetar ninguém.

Pessoalmente, nem quis "mostrar a verdade", nem ofender ninguém. Seja com a entrevista ou com o que disse sobre o entrevistado.

Entrevistar pessoas é também estar preparado para escutar o inesperado.

Entre concordar com as respostas do entrevistado e publicar no blog vai um abismo. Quando quero colocar minha opinião, até mesmo assino embaixo.

Assim como faço questão desde o "dia zero do blog", de colocar os dois lados de qualquer história . Tenho como precedente que mostrar vários lados de história e realidades é diferente de querer "fazer polêmica".

Olhar todas as opiniões a respeito de um tema é fazer pensar.

Publico aqui o pedido de resposta da Academia Rokaz. A Academia de Belo Horizonte me procurou gentilmente para que publique também seu ponto de vista.

Venho por meio desta apresentar minhas discordâncias e reagir a entrevista do André Ilha, pois acho que ao contrario do que foi anunciado na introdução da entrevista (...“em nenhum momento ele demonstrou preocupação em alfinetar ninguém, nem apontar culpados. Mais uma comprovação de sua elegância”...), o André Ilha criticou sem muita elegância e usou palavras pejorativas ("...os escaladores de academia são escaladores de 'plástico'"...) para falar das academias de escalada (as de Belo Horizonte em particular) sem conhecer bem o trabalho que estamos fazendo aqui.

Ao contrario do que ele fala, as belas paredes que escalamos todos os finais de semana não são para nós e para nossos alunos e amigos de jeito nenhum um “mero ginásio ao ar livre”.

Desde o primeiro curso de escalada que damos para todos os iniciantes (sem exceção) que chegam a academia até o curso mais completo que temos, ensinamos a nossos alunos o respeito à natureza, que a escalada é muito mais que um esporte, é um estilo de vida, graças a esse contato íntimo que o escalador tem com a natureza através da pedra, graças as viagens que ele faz para conhecer novos picos e visuais.

Quase uma vez por mês levamos nossos alunos para pedra, fazemos palestrinhas para conscientizar o pessoal com relação a proteção do meio-ambiente, práticas adequadas nos picos de escalada, além de apoiarmos as pessoas que conquistam vias e cuidam de um pico, com está sendo feito por exemplo na "Lapa do Seu Antão" esses últimos meses.

São raríssimos os “espíritos de porco” dentro dos escaladores de pedra, e sempre falar que existem alguns escaladores que sujam os picos de escalada prejudica muito a imagem de nosso esporte e faz parecer que eles são realmente numerosos.

Falar que os maiores conquistadores de vias esportivas do Cipó (Luis Pitta e Alexandre Fei por exemplo) são escaladores que nunca receberam “uma formação ética e ambiental consistente em suas academias” é mostrar muito pouca estima pelas pessoas que trabalharam muito para a escalada crescer no Brasil e que são apaixonados pelas paredes e natureza.

Essas pessoas que conquistam vias esportivas são escaladores de pedra muito mais que escaladores de academia!

As paredes do morro da Pedreira não são de jeito nenhum “inteiramente metralhadas de chapeletas” como o André Ilha falou.

Ele falou ainda: “Sem respeito pelo meio ambiente”. O único impacto ambiental de uma chapeleta é o impacto visual!

É claro que implica também um aumento da frequentação do pico, pois para cada escalador de rocha em móveis, existem no mínimo 100 escaladores de escalada esportiva, pelo menos em Minas.

A Serra do Cipó tem potencial para ser o maior e melhor pico de escalada esportiva da América latina (junto com o Valle Encantado na Argentina), mas a realidade de hoje é que apenas um terço das linhas de escalada são equipadas e que esse pico é quase totalmente desconhecido fora do Brasil!

Ao contrario do que o André Ilha fala é fato que hoje em dia no Brasil a escalada em móvel é reservada a uma elite: um jogo de camalots custa milhares de Reais, e normalmente levam-se vários anos para um escalador estar a vontade numa via onde ele pode usar somente móveis para se proteger, sobre tudo nos picos como o Cipó onde o calcário não é tão fácil de proteger como o granito do Rio.

Além disso, é errado falar que a escalada de uma via bem grampeada é mais perigosa que a escalada de uma via em móvel porque apresenta um índice de acidentes maior! A maior razão desse índice de acidentes maior é muito mais simples do que a falta de experiência: uma via clássica bem grampeada é repetida várias vezes por mês, uma via clássica em móveis é escalada algumas vezes por ano!

Com esse tipo de raciocínio, seria possível mostrar também que a via normal do Mont Blanc é muito mais perigosa que a face Sul do Aconcágua logo que 10 vezes mais alpinistas morrem no Mont Blanc que na face sul do Aconcágua, ou que a escalada em solo é um esporte muito seguro porque acontecem menos de 10 mortes por ano no mundo inteiro!

Na Rokaz nosso objetivo é democratizar a escalada, fazer que cada vez mais gente conheça o grande prazer de escalar na pedra, o grande prazer de ficar o dia inteiro curtindo a beleza das paredes e do mato com os amigos.

Não acreditamos que a escalada deve ser um esporte elitista.

Quem respeita a natureza é quem aprendeu a gostar dela, quem desmata as florestas ou joga lixo na beira das estradas é quem nunca teve o prazer de fazer uma caminhada no mato.

Na Rokaz somos apaixonados por todas as modalidades da escalada, mas acreditamos que são a escalada de boulder e a escalada esportiva que poderão democratizar o esporte e fazer que cada vez mais gente no Brasil respeite e cuide da natureza.

Alexis Loireau, sócio da Rokaz, academia de escalada em Belo Horizonte, alpinista e escalador de paredão em móvel há quinze anos, além de escalador esportivo e de boulder.
obs.: Toda e qualquer discussão a respeito desta entrevista, deve ser discutida na página do Blog de Escalada no Facebook, para que eu não fique dando destaque à este tipo de temática por aqui.

Quem estiver a fim de se extender no tema, abra um tópico de discussão lá e sinta-se a vontade para soltar o verbo.

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